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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Onde se repousa


Um túnel infinito e emaranhado de segredos desemboca no centro coronário do peito. Em seu decorrer, não se vê equações nem lógica, mas contradições e interrogações. Com seus nós e curvas, se apresenta como uma rede nebulosa, repleta de perigos...porém, agora, ultrapassada. Um destemido aventureiro se atreve a penetrar-lhe os mistérios. Com bravura adormece seus próprios poréns e a dura razão e vai-se moldando às "leis sem regras" daquele labirinto. As feridas encontradas no caminho lhe são, incrivelmente, indolores.

Com a alma e os pés já frágeis e exaustos, ainda resta-lhe forças para pinçar o tesouro - dos mais preciosos-: um longo suspiro, todo delicado, pertencente àquele belo e complexo ser, cujo coração ousara penetrar. Trançando tal fio, tão forte mas sutil, ao seu próprio, logo deu início à jornada de volta a si.


Em sua trança, via-se nitidamente dois sopros de vida em um só.

Sem qualquer dificuldade, como se conhecesse o labirinto como o seu próprio, retornou para fora dali sem nem temer os desfiladeiros e escuridões que dariam medo em qualquer outro. Saiu sem esforço guiado pelo seu próprio fio guia, o qual o levaria para dentro de si mesmo, mas sem nunca desfazer a delicada, porém forte trança que confeccionara. Sendo assim, sempre saberia o caminho até aquele jardim velado que ousara buscar.

Sempre que suas energias se exauriam, sempre que se sentia frágil, necessitando descansar em profundezas, tanto um ser quanto o outro sempre poderia repousar, se recolher no cerne do outro, sempre pronto a recebê-lo. O frescor e o calor dali tinham o poder de restaurar forças e, por incrível que pareça, fazer relembrar fragmentos de si mesmo, compreender-se, nutrir-se, crescer, vibrar novamente e, se amando, ser amado e amar novamente.

A distância entre estes édens não se mede com metragens físicas. Ela é incrivelmente curta e constante, apesar dos corpos estarem separados por ruas, estradas e muralhas.

A magia continua a surpreender, sempre. Quando podem os olhares se cruzarem, um pode ler o outro como se as palavras estivessem ali, escancaradas, no cristalino do olhar. Na despedida e a todo o momento, as contradições vêm a tona, ama-se, mas sente-se realizado ao ver o(a) outro(a) amando, quer o(a) outro perto, mas o(a) quer traçando seu próprio caminho pela sua felicidade; mal espera por vê-lo(a), mas a distância parece não existir; a saudade se mistura com acolhimento. Não há desespero, não há medos, parece não existir perdas, parece não existir o fim, parece que o universo sabe o que faz, confia-se plenamente nele, pois tudo flui quando se trata dele (a).

São sensações tão sutis, delicadas e belas, ainda que também fortes e gigantescas. Mas apesar de sua imensidão e complexidade, uma pequena lágrima as pode carregar.

K.A.T.O.

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