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domingo, 31 de julho de 2011

Lição de maya.



O passar do tempo é um grande rival da ilusão.
Se o real é aquilo que não tem fim nem início, a ilusão é justamente aquilo que um dia finda.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Avô. Isquemia. Segunda lição

O que podemos aprender em meio ao caos?
Segunda lição: "uma gota de chuva pode revigorar todo um oceano".

Como disse, o neurologista que enfim diagnosticou a isquemia de meu avô é amigo da família. Ele se tornou praticamente parte dela graças ao seu dom.

Por causa deste neurologista meu irmão fora enfim diagnosticado e medicado corretamente: sempre atualizado, descobriu a Meningite Viral da Dengue em meu irmão, quando pouco se falava nela (apenas algum tempo mais tarde a tal doença seria notificada aos gritos pela mídia nacional). Se não fosse por sua sensibilidade, meu irmão teria sido a primeira vítima de Meningite Viral por Dengue em nossa cidade.

Graças ao mesmo médico minha mãe conseguiu a medicação certa após anos de busca, erro e sofrimento. E é graças a ele que muitos recebem atenção nos hospitais em horários nada convencionais como antes das 6h da manhã e depois das 22h da noite. Estes são apenas casos mais próximos de mim, casos dos quais eu posso falar sobre.

Vimos que este médico era o curinga do hospital quando meu irmão esteve internado por uma semana com a tal meningite. Podia-se contar com sua presença todos os dias antes e depois do expediente convencional, como já disse. Para mim, meu irmão e minha mãe, ele era a luz que chegava sempre, nos esclarecendo as dúvidas do tratamento e da doença.

Minha mãe, coruja como ela, repetia sempre as mesmas perguntas até ter segurança do que ouvia; tanto eu quanto meu irmão ficávamos encabulados de tanto que ela era repetitiva e ''neurótica''. E por incrível que pareça, este médico respondia a cada uma das mesmas perguntas como se estivesse sendo feita pela primeira vez; às vezes até mudando as palavras para facilitar o entendimento. E toda essa paciência existia mesmo naqueles horários inconvencionais: antes das 6h e depois das 22h.

Vimos também como atende o primeiro e o último paciente do dia da mesma maneira. Vimos isso nas visitas que fazia inconvencionalmente ao meu irmão no início e no fim do dia. Tinha tato, sabia a hora certa de falar, de fazer rir, sabia o que e a quem falar, era sempre educado e atencioso com todos, e olhava tanto o paciente quanto o acompanhante nos olhos, sempre ouvindo atentamente ao que diziam. E vê-se que se interessa por cada caso, sente prazer no que faz. Todos no hospital o admiram.

E são seres assim, em meio à maioria cinzenta, que nos nutre. E nutre ainda mais quem quer seguir de coração na área da saúde, nos mostrando que é possível fazer a diferença, que "uma gota de chuva é capaz de revigorar todo um oceano".

Sim, nem tudo são uma mar de rosas...penso em seu ritmo de vida um tanto exagerada, apesar de nutridora para si...imagino se tem tempo para sua família, filho, esposa...na vida de sacrifícios...se há equilíbrio. No entanto, com um pouco mais de temperança, vemos que seus pequenos e grandes atos fazem total diferença.

(Obs: desculpem, mas omiti nomes e diagnósticos.)

Avô. Isquemia. Emergência. Primeira lição

Hoje meu avô materno teve uma isquemia. Assustou toda a família, que ficou com ele das 19h às 23h apenas para descobrir o que acontecera com ele.

Hoje observei duas coisas, e as dividirei em duas postagens.

Primeiro, senti queimar na pele o que é o plano de saúde por detrás de sua máscara.

Há muito ouço falar de sua decadência, mas "quem nunca viveu a verdade, não sabe o que ela é de fato". E o plano particular é mesmo muito falsamente eficiente e é preciso muito para que ofereça apoio ao paciente e seus acompanhantes. Talvez o que eu vá falar não seja nada de novo, infelizmente.

Foi decepcionante ficar plantada com meus familiares do lado de fora da emergência por quase 1h sem notícia alguma de meu avô. Não vimos um sinal de calor e acolhimento em um local onde só há pessoas aflitas e angustiadas, e isso é irônico. E foi duro ver, mais tarde, meu avô tentar se sentar na maca por algum incômodo que não conseguía nos dizer por não poder ainda falar direito (consequência temporária da isquemia), e ainda assim ver os médicos e enfermeiros passarem por ele e apenas observarem, sem nada checar ou perguntar, sem se importar com o bem estar de meu avô, como se apenas o médico que o acompanhou de início tivesse o poder sobre ele.

Senti mesmo uma hierarquia muito forte e uma posse irracional de pacientes: o médico de plantão não nos deixou chamar o cardiologista de meu avô, nem ao menos avisá-lo sobre meu avõ. E quanto aos enfermeiros, eles quase dizem 'sim senhor' ao médico e, não importa a circunstância ou o incômodo do paciente, fazem apenas o que o médico lhes mandou enquanto poderiam ao menos elevar um pouco a cabeceira da maca, umedecer os lábios que estavam secos, dizer alguma coisa (o silêncio nessas horas é doloroso), falar e rir mais baixo...se isto é ser enfermeiro, me desculpem, mas com que argumentos vocês pedem respeito?

Também ficamos num vaivém infernal. Ao menos meu avô matou todas as lombrigas de quando era criança e enfim passeou de ambulância, como depois me disse hahaha.O plantonista nos mandou para um outro hospital, pois onde estávamos não havia tomografia. Fomos, meu avô fez o exame e tivemos de retornar ao primeiro hospital. Foi pedido internação e tivemos de retornar para o hospital de onde tínhamos acabado de voltar (por que já não o deixaram ali antes eu não sei, fora o fato do plantonista DELE estar lá, no outro hospital). Ali ele esperou -e muito- por um médico até que, por algum feliz acaso, um neurologista conhecido da família apareceu ali e acabou observando os exames, diagnosticando a isquemia e medicando temporariamente meu avô. Tanto vaivém e espera para só depois de 4h sabermos, por um acaso, o que havia acontecido com meu avô. E graças a Deus não era nada tão grave. Era reversível.

E pensei na agonia de meu avô e no medo que estava sentindo pois durante todos os passeios de ambulância não sabíamos nada ainda sobre seu estado de saúde, o que havia acontecido e o que aconteceria. Não tínhamos nada para lhe dizer, apenas que tudo ficaria bem.

E para mim, o fato de ele querer se sentar sempre não era apenas por desconforto ( pois sempre movimentávamos seus membros, massageávamos e ele se virava para cuidarmos de suas costas). Acredito que o fato de estar deitado o deixava passivo e ele estava assustado demais para ficar naquela posição insegura. Segurávamos em suas mãos e ele as acariciava com os dedos. Jamais o vi fazer isso antes.

Mas o que mais marcou foi a falta de humanidade no local que mais humano deveria ser. Os médicos parecem se lembrar de notificar a família apenas quando há más notícias. E quando não há más notícias a serem dadas, os entes ficam se torturando à toa com a idéias de algo ruim estar acontecendo. Não há um olhar e um toque dizendo que qualquer coisa ele\a estará ali, que qualquer dúvida ou pergunta, ele\a estará ali e que ele\a fará de tudo para tudo ficar bem. Ao invés disso, recebemos desprezo e ira em troca de tantas perguntas. Mas felizmente há exceções, ainda que poucas.

Talvez haja algo por detrás disso que os faça ser assim. Não tenho como culpar algo ou alguém, apenas dizer quais são as falhas que presenciei. E depois de tudo por que passamos, penso nas unidades públicas de saúde...e nas pessoas que como nós ficam aflitas, mas que têm mesmo uma notícia ruim a receber no final...e penso com uma terrível angina no peito que o que passamos não foi nada demais, nada mesmo...

terça-feira, 19 de julho de 2011

Jardim velado de lugar nenhum

Lado a lado, eles plantam-se emoções cheirosas e multicoloridas, e no céu fazem brilhar mornos raios de sol. Num piscar de olhos, na eternidade, aquele jardim infinito e velado era cultivado. E majestosa, no coração desse lugar infinito, uma frondosa e imponente árvore, toda feita de milagres.

Alguns sabem o segredo de como se chegar lá, de ir de onde existe o tempo e o abismal espaço para onde não há mensuras, onde as almas em mundos diferentes compartilham do mesmo por-do-sol lado a lado.

Ali, pode-se ver brotar lentamente e até tocar a delicadeza das pétalas da linda flor que nasce sempre nova nos peitos das almas que se reencontram enfim.


quinta-feira, 7 de julho de 2011

A Coruja de Minerva alça voo.

A luz da sabedoria tem um momento para surgir? Será que apenas o sofrimento tem o poder de nos fazer conhecer a verdade?
"A coruja de Minerva alça seu voo
somente com o início do crepúsculo".
(O filósofo alemão Friedrich Hegel, em sua obra "Princípios da filosofia do direito")

segunda-feira, 4 de julho de 2011